Um amigo próximo passou a Páscoa em Buenos Aires e voltou cheio de entusiasmo. Ele comentou que a cidade está diferente. Não pela aparência, que mantém aquele charme europeu e um toque de decadência, mas pela energia das pessoas.
“Há algo novo no ar”, ele disse. “Mais lojas abertas, mais gente nas ruas, restaurantes lotados. E o mais impressionante: uma sensação de que as coisas estão mudando para melhor.”
Segundo ele, a capital argentina parecia vibrante, repleta de obras e novidades. A cidade em si pode ser a mesma, mas transbordava vida. E isso, por si só, já representa uma mudança significativa.
Faz anos que não visito Buenos Aires, mas a animação do meu amigo me deixou com vontade de conhecer novamente.
Coincidentemente, na semana passada, conversei com um empresário argentino que reforçou essa visão positiva, mencionando até um aumento no número de candidatos a vagas de emprego, pessoas que antes se sentiam acomodadas no assistencialismo do governo anterior.
E talvez esse seja o aspecto mais interessante desse novo ciclo na Argentina: Milei não está buscando agradar. Ele está focado em consertar as coisas. Está abrindo o país, cortando privilégios e enxugando o Estado, confiando na iniciativa privada para reconstruir o que o setor público ajudou a desmantelar.
Funciona? É complicado afirmar com certeza. No entanto, os indícios são encorajadores: as ações argentinas mais do que dobraram desde a eleição do atual presidente. Na realidade, o crescimento na bolsa de Buenos Aires teve início um ano antes da sua posse.
E, ao olhar para o Brasil, é impossível não refletir: quando Lula concluir seu mandato, teremos passado 18 dos últimos 24 anos sob administrações do PT.
Esse é um período excessivamente longo no poder, em qualquer democracia saudável. Uma mudança, com a eleição de um presidente de direita que esteja comprometido com reformas liberais, seria extremamente benéfica.
Isso abriria a possibilidade de avanços no Brasil semelhantes aos que começam a emergir na Argentina: mais espaço para o setor privado, menos intervenção estatal e uma economia mais integrada ao cenário global.
Se isso acontecer, poderíamos ter como bônus a chance de vivenciar a “mãe de todos os ralis”, conforme mencionado por André Esteves.
Enquanto nossa América Latina historicamente fragilizada apresenta motivos para otimismo, observamos os Estados Unidos, sob a liderança de um Trump cada vez mais errático, seguindo em uma direção oposta.
Aliás, quem assistiu ao filme “O Aprendiz” (e para aqueles que ainda não viram, fica a sugestão) talvez tenha compreendido melhor a origem desse estilo tão peculiar de governar.
O filme retrata como Roy Cohn, um advogado implacável e figura central na esfera de Trump, moldou sua visão de mundo. As três lições que Cohn transmitiu ao jovem Donald foram diretas, brutais e duradouras:
- Atacar, atacar, atacar.
- Não admita nada e negue tudo.
- Não importa o que aconteça, declare vitória e nunca reconheça derrota.
É um manual de combate. Não se trata de economia ou de políticas públicas.
Enquanto Milei diminui tarifas e liberaliza mercados, Trump inicia uma guerra comercial contra o mundo e, em seguida, pressionado pela queda das bolsas, tenta reverter os danos causados.
Perceba que ele segue a estratégia de seu mentor. Ataca em primeiro lugar, não admite erros e, mesmo quando recua, continua se apresentando como um vencedor.
O mercado, no entanto, tem reagido negativamente ao estilo de Trump, demonstrando grande desconforto com sua abordagem de “negociação”.
As ações nos Estados Unidos caíram drasticamente, assim como o valor do dólar e os títulos do tesouro. Elon Musk, um apoiador do novo governo, parece ter se distanciado.
Agora, investidores especulam se Trump realmente manterá suas ameaças ou se tudo não passa de um espetáculo que será revertido novamente.
Enquanto isso, o contraste se torna evidente.
De um lado, uma Argentina que, apesar de todos os riscos e incertezas, está tentando seguir um novo caminho. Mostra sinais de vitalidade ao enfrentar seus próprios desafios em vez de escondê-los.
Do outro lado, uma potência global que, envolvida em seus próprios jogos de vaidade e improvisação, parece cada vez mais confusa no barulho que ela mesma gerou.
Da minha parte, torço para que em breve possamos olhar para o Brasil da mesma maneira que meu amigo descreveu Buenos Aires: vibrante, repleto de novidades… e com uma nova energia no ar.