Os acionistas que desejarem se desfazer de suas ações poderão solicitar o reembolso no valor de R$ 3,93. Atualmente, os papéis estão sendo negociados em torno de R$ 7, apresentando uma valorização superior a 150% apenas neste ano.
Parece que não foi desta vez. A plataforma de cupons de desconto e cashback Méliuz (CASH3) não conseguiu atingir a quantidade mínima de acionistas necessária nesta terça-feira (6) para alterar seu estatuto, o que permitiria um investimento significativo em bitcoin (BTC).
A ausência de acionistas presentes adiou os planos do Méliuz, que precisava de um quórum mínimo de 66% para avançar com a proposta. No total, apenas 60,9% dos acionistas compareceram à assembleia.
Apesar desse revés, a empresa realizará uma nova convocação no dia 15 de maio, onde não será necessário atingir um quórum mínimo; bastará que 50% mais um dos acionistas aprovem as pautas.
Os planos da plataforma para investir em criptomoedas começaram em 6 de março, quando anunciou que destinou 10% de seu caixa para a compra de bitcoins. Na ocasião, a empresa adquiriu 45,72 bitcoins por cerca de US$ 4,1 milhões, com um preço médio de US$ 90.296,11 cada.
A CASH3 ficou animada e desejou investir ainda mais. Em meados de abril, convocou uma assembleia geral para votar a possibilidade de realizar investimentos consideráveis na criptomoeda, tornando-a um ativo estratégico de longo prazo para suas operações.
O foco da assembleia era a votação da proposta que alteraria o objeto social do Méliuz, permitindo investimentos em bitcoin como parte da estratégia comercial — sem alterar seu negócio principal, segundo a companhia.
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“O objetivo do Méliuz, uma vez aprovadas as propostas da Assembleia Geral Extraordinária, será adotar o bitcoin como o principal ativo estratégico da tesouraria da empresa, além de promover a geração adicional de bitcoin para seus acionistas, seja através da geração de caixa operacional ou por meio de operações financeiras e iniciativas estratégicas”, afirmava o comunicado divulgado ao mercado em abril.
A geração de caixa em moeda corrente continuaria, pois “a receita das operações é essencial para a estratégia de adquirir mais bitcoin ao longo do tempo”, acrescentava o texto.
No aplicativo da empresa, os investidores já têm a possibilidade de comprar e vender bitcoin utilizando seus cashbacks.
Reembolso para quem pular fora
Os acionistas que optarem por não continuar na empresa e não compareceram à Assembleia Geral Extraordinária poderão solicitar o reembolso de suas ações, conforme informado no comunicado ao mercado.
O valor definido para o reembolso é de R$ 3,93 por ação, baseado no balanço patrimonial do Méliuz de dezembro de 2024.
Atualmente, as ações da CASH3 estão sendo negociadas em torno de R$ 7, apresentando uma valorização de quase 150% apenas neste ano.
Os acionistas que poderão solicitar o reembolso são aqueles que já possuíam ações da CASH3 antes de 14 de abril de 2025 e que mantiveram seus investimentos até a data do pedido.
Analistas veem estratégia do Méliuz (CASH3) com cautela
Quando o Méliuz anunciou sua primeira compra de bitcoins, analistas receberam a notícia com cautela.
De acordo com Felipe Miranda, CIO e estrategista-chefe da Empiricus, embora a empresa possuísse recursos financeiros adequados para realizar a aquisição de bitcoins, a escolha de alocar parte do capital dessa forma indicava que a “empresa estava se desviando de seu foco principal”.
“Quem investe em ações do Méliuz deveria estar focado no modelo de negócios da empresa, e não em uma especulação com criptomoedas. Se o investidor acredita na valorização do bitcoin, ele pode adquiri-lo diretamente”, comentou Miranda.
“Encaro essa decisão como um sinal de que a empresa está se distraindo de seu foco principal. O Méliuz deveria se dedicar a fortalecer seu core business e a agregar valor para seus acionistas, o que pode ser um indicativo preocupante.”
A XP Investimentos também analisou a estratégia com cautela, especialmente porque a empresa não atua com criptomoedas em seu modelo de negócios de cashback.
“Essa abordagem parece desconectada dos objetivos operacionais da companhia, criando incertezas sobre sua eficácia e levantando dúvidas sobre a habilidade da empresa em reinvestir sua geração de caixa em suas atividades principais”, afirmaram os analistas.
Entretanto, a XP reconheceu que o bitcoin poderia se consolidar como uma reserva de valor no futuro, o que tornaria essa alocação mais justificável se a estratégia estiver melhor alinhada com as operações do Méliuz.
Inácio Alves, analista da Melver, comparou a nova estratégia de tesouraria do Méliuz com as apostas malsucedidas da Sadia em câmbio nos anos 2000.
É importante destacar que o frigorífico utilizou operações com derivativos de câmbio como uma forma de se proteger da volatilidade do dólar. Entretanto, essas estratégias não trouxeram os resultados esperados e, devido às significativas perdas financeiras, a Sadia precisou se fundir com a Perdigão para assegurar sua continuidade.
“Se o Méliuz conseguir manter sua saúde financeira sem comprometer suas operações, essa pode ser uma boa estratégia para gerar recursos adicionais a longo prazo. No entanto, se a empresa começar a focar excessivamente na alocação em bitcoin e negligenciar seu negócio principal, pode acabar enfrentando um destino semelhante ao da Sadia, não conseguindo gerenciar adequadamente os riscos e acabando por se complicar ainda mais”, avaliou.

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