A Bradespar, holding do Bradesco, classifica a causa, que pode atingir R$ 3 bilhões, como uma perda “possível” em seu balanço e não possui provisão para isso.
A Bradespar (BRAP4) é uma holding do Bradesco que concentra seus investimentos em uma única ação: a Vale (VALE3). Além de sua participação na mineradora, a empresa enfrenta um grande passivo devido a uma disputa judicial com fundos de pensão, que pode estar próxima de uma resolução.
A Bradespar considera essa causa, que pode chegar a R$ 3 bilhões, como uma perda “possível” em seu balanço e não possui provisão para isso. Atualmente, a holding tem um valor de mercado de R$ 6,5 bilhões.
“Normalmente, o mercado aplica um desconto em holdings por várias razões, como custos operacionais, questões de liquidez e ineficiências fiscais. Contudo, levando em conta um passivo dessa magnitude e o fato de que ela precisaria vender ações da Vale para cobrir esse valor, podemos afirmar que a Bradespar está sendo negociada com um prêmio em relação à Vale no nível atual”, analisa um gestor.
A origem da disputa entre a Bradespar e fundos de pensão
O conflito entre a holding de investimentos do Bradesco e os fundos de pensão teve início com a privatização da Vale, em 1997.
Naquela época, a Vale contava com acionistas como a Elétron, vinculada ao Opportunity, além da Bradespar e da Litel, um veículo criado por Previ, Petros, Funcef e Funcesp.
Havia uma cláusula chamada “Call Citibank”, que concedia à Elétron o direito de adquirir ações da holding da Vale, conhecida como Valepar, mas essa cláusula não foi reconhecida.
Em 2018, uma arbitragem decidiu a favor da Elétron, resultando em um pagamento de R$ 2,8 bilhões pela Bradespar e pela Litel, dividido igualmente entre as duas.
Após esse episódio, a Litel recorreu à Justiça, buscando que a Bradespar reembolsasse os R$ 1,4 bilhão que foram pagos. A justificativa era que a holding do Bradesco havia concedido esse direito à Elétron sem consultá-la. Desde então, a Bradespar tem enfrentado uma série de derrotas judiciais.
Uma conta de até R$ 3 bilhões
Em 2021, o caso foi levado ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) e está tramitando em segredo. Segundo fontes, o ministro Marco Buzzi, que é o relator do processo, concedeu um prazo de 15 dias, a partir de 25 de abril, para que as partes tentassem chegar a um acordo. Caso isso não ocorra, o processo será julgado.
O passivo começou em R$ 1,4 bilhão e, com a correção pela UFIR – RJ mais 12% ao ano, pode atingir um valor próximo a R$ 3 bilhões, conforme estimativas de um gestor.
De acordo com os cálculos desse especialista, se a Bradespar perder a disputa judicial, considerando o índice da justiça (UFIR/RJ + 12% ao ano), a holding estaria sendo negociada com um prêmio de 5% em relação à Vale.
Por outro lado, se vencer a ação, a Bradespar estaria com um desconto significativo de 30%.
Se as partes chegarem a um acordo e corrigirem o passivo apenas pelo CDI, o montante poderia chegar a R$ 2,3 bilhões. Nesse cenário, a Bradespar estaria sendo negociada atualmente com um desconto de 6%.
O mercado sugere que um “desconto justo” para holdings varia entre 15% e 20%.
Vale x Bradespar
Em um relatório publicado em setembro do ano passado, o BTG sugeriu a compra de ações da Vale (VALE3) e a venda de ações da Bradespar (BRAP4).
Atualmente, a mineradora é o único ativo da holding, após a venda de sua participação na CPFL Energia (CPFE3) em 2018.
“Prever resultados judiciais é sempre uma tarefa complicada, mas se a decisão mais recente for mantida, a Bradespar pode acabar perdendo a disputa para a Litel”, aponta o relatório do BTG.
O documento ressalta que investir na Bradespar é uma estratégia complexa, pois depende do desfecho dessa disputa judicial que não foi provisionada. Além disso, a holding não possui planos de diversificação para novos negócios nem pretende realizar outra redução de capital como fez anteriormente.
A Bradespar, ao ser contatada, não se manifestou sobre o assunto, citando o segredo judicial do processo.

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