Conforme apontado pelo BTG Pactual, examinar o balanço da empresa é crucial para captar indícios sobre o futuro e o que ele reserva aos acionistas.
Um incêndio tem impactado as ações da Cosan (CSAN3) — tanto de forma literal quanto figurativa. Com os papéis apresentando uma das maiores quedas do Ibovespa nesta sexta-feira (16), a empresa enfrenta as repercussões do balanço do primeiro trimestre de 2025.
As ações sofreram uma baixa de aproximadamente 3,76% por volta das 12h, sendo negociadas a R$ 7,40 — cerca de 70% abaixo do seu pico histórico de R$ 26,14, alcançado em julho de 2021.
Segundo o BTG Pactual, analisar o balanço da holding nos últimos trimestres tornou-se mais uma maneira de captar indícios sobre o futuro do que apenas interpretar os resultados financeiros. “Os números refletem uma narrativa do passado”, afirmaram os analistas do banco.
Nesse contexto, o BTG mantém a visão de que a gestão está se esforçando em diversas frentes para melhorar o patrimônio da empresa. No entanto, ainda não está claro quais dessas iniciativas realmente se concretizarão. “Acreditamos que as ações só valorizarão quando a Cosan estiver pronta para fazer um anúncio significativo”, ressaltam.
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A história do passado que a Cosan nos contou no 1T25
A Cosan Holding possui um portfólio diversificado, com destaque para suas principais empresas: Raízen, Rumo, Compass e Moov.
Hoje, a Cosan apresentou os resultados do primeiro trimestre de 2025, reportando um EBITDA (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado pró-forma — que inclui a Raízen — de R$ 3,3 bilhões. Esse valor representa uma diminuição tanto em relação ao trimestre anterior quanto ao mesmo período do ano passado.
Rumo, Raízen e Compass já haviam divulgado seus resultados, enquanto a Moove também apresentou seus números, registrando um EBITDA ajustado de R$ 232 milhões, o que representa uma queda de 22% no trimestre, afetada pelo incêndio na maior planta da empresa, ocorrido em fevereiro.
No primeiro trimestre de 2025, a holding reportou um prejuízo líquido de R$ 1,78 bilhão, um valor significativamente maior do que os R$ 192 milhões registrados no mesmo período do ano anterior. Isso representa um aumento de mais de 850% nas perdas anuais.
A dívida líquida ao final de março foi de R$ 17,5 bilhões, cerca de R$ 6 bilhões a menos em comparação ao ano anterior, devido aos recursos provenientes da venda das ações da Vale (VALE3).
“Como resultado, além da diminuição do endividamento, o custo médio da dívida caiu de CDI+1,40% para CDI+0,91%, e o prazo médio da dívida aumentou para 6,4 anos, em comparação a 6,1 anos no quarto trimestre de 2024”, ressalta a empresa.
A alavancagem ajustada pró-forma da holding encerrou o trimestre em 2,8 vezes, apresentando uma redução de 0,1 vez. Já o índice de cobertura de juros da Cosan Corporate subiu para 1,2x, ante 1,1x no mesmo período de 2024, evidenciando os avanços nas estratégias de gestão de passivos.
Os dividendos e juros sobre capital próprio (JCP) recebidos pela companhia totalizaram R$ 1,5 bilhão no trimestre, em comparação a R$ 900 milhões no ano anterior, marcando um crescimento de 66,7%.
Confira mais detalhes dos balanços das subsidiárias na tabela abaixo, conforme informações do BTG Pactual:
Subsidiária | Resumo | Recomendação |
Raízen (4T24) | Ebitda de R$ 1,7 bi, 42% abaixo do esperado. Enfrenta desafios para estabilizar balanço e conter consumo de caixa, principalmente no upstream (fase produtiva). Dívida líquida de R$ 34,3 bi. Queda de 77% no Ebitda ajustado upstream. Volumes caíram no Brasil; Argentina superou expectativas. Projeção de Ebitda 2026 entre R$ 12 e 13 bi. | Compra |
Compass (1T25) | Ebitda consolidado de R$ 1,3 bi, crescimento de 45% ano a ano. Geração estável de fluxo de caixa livre e alavancagem abaixo de 2x Ebitda Crescimento de volumes de gás em 4%, Edge com alta de 22%. | Compra |
Rumo (1T25) | Receita de R$ 3 bi, queda de 6% ano a ano. Ebitda ajustado de R$ 1,6 bi, 3% acima do esperado, margem de 55%. Lucro líquido de R$ 188 mi, abaixo do 1T24 e estimativa. Volumes operacionais menores, capex de R$ 1,8 bi. | Compra |
O que fazer com as ações?
O BTG Pactual reafirmou a recomendação de compra das ações da Cosan.
Os analistas apontam que a empresa apresenta um desconto de holding de 39%, o que ainda é considerado elevado. Esse cenário reflete a preocupação de que, caso a Cosan não consiga equilibrar os custos da dívida com o fluxo de caixa das subsidiárias, a situação da dívida pode se agravar, impactando ainda mais o valor do patrimônio líquido.
Com estimativas de encargos anuais da dívida na faixa de R$ 3,5 a 4 bilhões e uma previsão de recebimento de dividendos entre R$ 2,5 a 3 bilhões, a Cosan enfrenta um desafio significativo. Além disso, as despesas administrativas da holding consomem cerca de R$ 400 a 500 milhões anualmente.
“Assim, ser acionista da Cosan atualmente exige uma dose considerável de confiança na capacidade da gestão em tomar as decisões corretas — seja vendendo ativos, alienando participações em empresas ou melhorando o desempenho das subsidiárias com dificuldades — para reverter essa situação”, ressaltam em seu relatório.
“Se nossas previsões se concretizarem, as ações da Cosan podem proporcionar uma combinação forte de desalavancagem e diminuição do desconto da holding”, concluem.

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