Nas últimas semanas, o dólar tem se desvalorizado em relação às moedas internacionais. O índice DXY, que mede o desempenho da moeda americana em comparação com uma cesta de seis outras moedas (euro, iene, libra, dólar canadense, coroa sueca e franco suíço), acumula uma queda superior a 8% no ano e está sendo negociado abaixo dos 100 pontos.
Em relação ao real, o dólar caiu de R$ 6,40 em janeiro para cerca de R$ 5,70 atualmente.
Por outro lado, os rendimentos dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos, conhecidos como Treasuries, atingiram os maiores níveis desde 2023 nas últimas semanas.
No longo prazo, as taxas de juros projetadas para a dívida de 30 anos, que serve como referência para o mercado imobiliário americano, superaram recentemente a marca de 5%, atingindo o maior patamar do ano.
De maneira geral, o desempenho dos Treasuries está intimamente ligado ao dólar; normalmente, quando os títulos do Tesouro dos EUA se valorizam, o dólar tende a se fortalecer. Isso ocorre porque os Treasuries são considerados os ativos mais seguros do mundo devido à sua emissão pelo governo dos Estados Unidos, que não possui histórico de inadimplência. Esses títulos são denominados em dólares, o que aumenta a demanda pela moeda americana em períodos de incerteza.
Dólar e Treasuries em direção contrárias: o que está por trás do movimento
Entre outubro e novembro de 2023, os rendimentos dos Treasuries estiveram em torno de 5%, alcançando o nível mais alto desde 2016, o que resultou em uma valorização do dólar.
Atualmente, a situação é diferente: enquanto os títulos dos EUA estão se valorizando, o dólar apresenta uma desvalorização. O fator que desencadeou esse “descompasso” foi o anúncio do aumento tarifário feito por Trump no início de abril, que gerou incertezas sobre a dinâmica do comércio internacional, contribuindo para a desaceleração do crescimento global e o aumento da inflação nos Estados Unidos, que permanece acima da meta de 2% estabelecida pelo Federal Reserve (Fed).
“Com todas essas incertezas relacionadas ao governo Trump, o mercado se tornou mais pessimista em relação à continuidade do financiamento dos Estados Unidos”, afirmou Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad, em entrevista ao Mundo Conectdo.
“O aumento das tarifas é uma questão significativa e não será resolvida rapidamente. Portanto, podemos esperar bastante volatilidade na moeda”, complementou Igliori.
Venda de títulos pela China
Como parte de sua retaliação, a China diminuiu suas posições em Treasuries, caindo de segundo para terceiro lugar no ranking dos maiores detentores de títulos da dívida dos Estados Unidos. Atualmente, Japão e Reino Unido ocupam as primeiras posições como os principais credores do país. No entanto, esse movimento foi considerado por Juliana Benvenuto, sócia e coordenadora de conteúdo da Avenue, como “apenas um barulho no mercado”.
“O que aconteceu, especialmente com o aumento das tarifas, foi um descolamento entre as taxas de longo prazo e as de curto prazo. Nesse período, os investidores buscavam ativos mais seguros, e os títulos de curto prazo dos EUA continuaram a ser uma opção atrativa”, afirma Benvenuto.
“A venda de títulos públicos americanos pela China não teve um impacto significativo; trouxe apenas ruído ao mercado, pois não se trata de um volume expressivo.”
Apesar do enfraquecimento, o dólar continua sendo a principal moeda de reserva global. “A China está liquidando seus Treasuries e deseja reduzir a dependência do dólar como moeda dominante, mas isso é algo que levará tempo para ocorrer”, comenta Juliana.
Da mesma forma, o economista-chefe da Nomad ressalta que o chamado “excepcionalismo americano” contribui para a manutenção da posição dominante do dólar.
“Desde o final da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos têm construído uma estrutura complexa. Portanto, desmontar isso de maneira significativa não é uma tarefa simples”, diz Igliori.
“Uma turbulência já começou e é provável que piore; sua profundidade pode variar. No entanto, assim como vimos após a crise do subprime há quase 10 anos e outras crises nas últimas décadas, sempre houve recuperação e um fortalecimento dos Estados Unidos”, complementa.
Rebaixamento da Moody’s e Orçamento
Além das tarifas impostas por Trump, o rebaixamento da classificação de crédito pela agência de rating Moody’s e a aprovação do projeto de lei tributária pela Câmara dos Representantes — que deve adicionar cerca de US$ 3,8 trilhões à dívida federal, que atualmente é de US$ 36,2 trilhões, na próxima década — também trouxeram mais cautela ao mercado de títulos e câmbio.
Segundo Benvenuto, da Avenue, o principal motivo de preocupação no momento é o risco crescente de um aumento no déficit e na dívida pública dos Estados Unidos devido à redução de impostos.
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Dólar versus Real
O dólar tem enfrentado uma desvalorização em relação ao real. Até agora, a moeda americana acumula uma queda de aproximadamente 8% em relação à moeda brasileira, resultado de uma rotação global de ativos após o aumento das tarifas, que injetou mais de R$ 20 bilhões no mercado nacional.
“Quando analisamos o DXY e notamos a perda de força do dólar, pode parecer significativo, mas não podemos esquecer que estamos no Brasil e que o real não faz parte da cesta do DXY”, comenta Juliana Benvenuto, da Avenue.
Historicamente, em períodos de forte desvalorização do DXY, o real também tende a se enfraquecer, influenciado pela incerteza nas dinâmicas globais e pela saída de investidores de mercados emergentes.
“Em momentos de estresse econômico internacional, o real geralmente perde valor. Durante a crise de 2008, por exemplo, o DXY caiu bastante e atingiu mínimas em torno de 71 pontos. Naquela época, nossa moeda também se desvalorizou significativamente frente ao dólar. Portanto, é importante considerar esses fatores tanto como brasileiros quanto como investidores no Brasil”, acrescenta.

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