Conselheiro da Associação Brasileira do Agronegócio ressalta o potencial do Brasil e aponta os desafios da monetização para os produtores e investidores que estão focados na transição verde.
No contexto global de transição para uma economia com baixo carbono, o agronegócio brasileiro se destaca como uma das principais oportunidades para investidores que estão atentos às mudanças sustentáveis.
No entanto, é fundamental adaptar as metodologias de baixo carbono às variações climáticas, biomas e atividades econômicas específicas da região tropical do Brasil, conforme destacou Eduardo Bastos, conselheiro da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG).
Durante o evento “Futuro Regenerativo: o Agro como Solução Climática”, organizado pelo portal Reset, Bastos enfatizou a importância de fortalecer as cadeias produtivas e os benefícios financeiros associados aos créditos de carbono, além do acesso a mercados premium que oferecem preços mais altos por produtos ambientalmente sustentáveis.
Ele destacou que o Brasil já tem um histórico robusto de adaptação no setor agrícola, enfrentando desafios como solos com baixa fertilidade, secas intensas, chuvas excessivas em algumas áreas e a necessidade de cultivar em regiões antes consideradas marginais para a agricultura.
De acordo com Bastos, essa capacidade de adaptação torna mais fácil a implementação de práticas sustentáveis. Para os investidores, isso representa um ambiente propício para explorar oportunidades que vão além da mera produção agrícola.
Avanços e desafios no mercado de carbono
De acordo com Bastos, um número crescente de agricultores está implementando práticas regenerativas, como a diversificação de culturas e a utilização de combinações de sementes para cobrir o solo.
“Cada unidade de carbono que incorporamos ao solo representa uma reserva adicional de água”, ressaltou, sublinhando que a matéria orgânica extra contribui para uma maior resiliência climática e para uma produtividade sustentável.
Apesar das oportunidades, Bastos reconhece que ainda há desafios significativos, como a necessidade de uma regulação mais robusta, incentivos fiscais e melhorias nas metodologias de verificação para a criação de créditos de carbono.
“O mercado de carbono foi desenvolvido com foco em energia, e não na agropecuária. Precisamos adaptar as metodologias ao nosso contexto tropical”, alertou.
Em outras palavras, é essencial ajustar e aplicar métodos para redução de emissões e sequestro de carbono às especificidades brasileiras, levando em conta as características locais. Isso implica modificar modelos, ferramentas e práticas que podem ser universalmente aplicáveis, maximizando sua eficácia e relevância no ambiente tropical.
Um exemplo citado pelo especialista refere-se à metodologia que mede o carbono até 30 cm de profundidade. Segundo Bastos, esse critério não reflete adequadamente a dinâmica dos solos tropicais, que têm a capacidade de armazenar carbono em camadas mais profundas. Isso resulta em uma subestimação do potencial de sequestro de carbono da agricultura regenerativa tropical.
A Monetização requer esforços conjuntos de todos os elos da cadeia produtiva
A monetização eficaz depende da criação de estoques confiáveis de carbono, além de melhorias na medição e no relatório das emissões evitadas ou sequestradas. Nesse cenário, a comunicação entre todos os elos da cadeia produtiva é essencial para minimizar conflitos e facilitar o fluxo de recursos.
“No setor alimentício, por exemplo, 90% das emissões provêm do escopo 3 [emissões indiretas que ocorrem em atividades fora do controle da empresa dentro de sua cadeia de valor]. Não é possível alcançar um produto carbono zero sem dialogar com a ponta”, finalizou.
Ele também destacou a necessidade de uma linguagem comum entre produtores e investidores, argumentando que o setor financeiro deve ser “a força propulsora para garantir que as ações ocorram na velocidade necessária”.
Como enfatizou Bastos, embora o acesso ao crédito sustentável ainda envolva taxas relativamente altas — como no caso do Renova Agro, com juros de 8% ao ano —, a tendência é que a ampliação da regulação e o aumento do interesse dos consumidores por produtos sustentáveis estimulem a escalabilidade dessas iniciativas.
“A transparência permite que o consumidor faça escolhas, mas isso se torna mais complicado em cadeias como a de soja e milho, onde um aumento nos preços pode levar à substituição (por exemplo, etanol por gasolina). Regulações e incentivos fiscais são necessários, mas o desafio do preço continua.

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