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É o fim da linha para o dólar? Segundo o economista-chefe do Goldman Sachs, a moeda ainda pode enfrentar uma queda significativa

A desvalorização pode ser atribuída à hesitação dos investidores em se comprometerem com ativos dos EUA, devido à guerra comercial com a China e às incertezas relacionadas às tarifas, conforme afirma Jan Hatzius.

O forte dólar ainda pode enfrentar uma desvalorização, especialmente com o aumento da aversão dos investidores em relação aos Estados Unidos, segundo a perspectiva do economista-chefe do Goldman Sachs, Jan Hatzius.

Em resumo, a guerra comercial iniciada por Donald Trump, a constante inquietação que suas tarifas geram no mercado e o temor de uma recessão formam um contexto em que a exposição a ativos dos EUA se torna menos atraente nos portfólios globais.

Em entrevista ao Financial Times nesta quinta-feira (24), Hatzius destaca que apenas duas épocas na história apresentaram níveis de desvalorização do dólar tão significativos quanto os atuais: meados da década de 1980 e o início dos anos 2000.

Ambas as situações precederam desvalorizações entre 25% e 30%, conforme aponta o economista-chefe do Goldman Sachs, com base em informações do Federal Reserve (o banco central dos EUA).

Atualmente, o Fundo Monetário Internacional (FMI) estima que investidores internacionais possuam cerca de US$ 22 trilhões em ativos americanos.

No entanto, uma decisão simples por parte dos investidores pode ameaçar o valor da moeda: a redução da exposição a ativos dos EUA.

Essa mudança poderia levar a uma desvalorização considerável do dólar, uma vez que o contrário também se aplica: o valor da moeda se elevou devido à inclusão dos EUA nos portfólios globais dos investidores.

Relutância: um sentimento que pode influenciar o dólar

Hatzius ressalta que até mesmo uma leve hesitação dos investidores internacionais em expandir suas posições nos EUA pode impactar negativamente o valor do dólar.

Nesse cenário, o equilíbrio se torna um ponto vulnerável para a moeda americana. O déficit em conta corrente dos EUA, que chega a US$ 1,1 trilhão, precisa ser coberto anualmente por uma entrada líquida de capital equivalente.

Na prática, o economista observa que a maioria das flutuações na balança em conta corrente dos EUA está ligada às mudanças nas aquisições estrangeiras de ativos de portfólio americanos.

Se os investidores internacionais se mostrarem relutantes em comprar mais ativos dos EUA a preços atuais, será necessário que esses preços diminuam, o dólar se enfraqueça ou, mais provavelmente, uma combinação de ambos.

Com uma perspectiva pessimista, o economista-chefe do Goldman Sachs revisou para baixo a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para o quarto trimestre de 2025, reduzindo-a da mesma forma que foi feita para o quarto trimestre de 2024: de 1% para 0,5%.

  • A economia americana registrou uma expansão de 2,4% nos últimos três meses de 2024, conforme dados divulgados pelo governo.

Desvalorização não é sinônimo de fraqueza

Hatzius ressalta a importância de não confundir as questões nesse contexto delicado em que o dólar e os Estados Unidos se encontram.

Embora os fatores que contribuem para a fraqueza da moeda sejam significativos e diminuam o interesse por ativos americanos, isso não significa que a força do dólar na economia global seja eliminada.

De acordo com o economista, a menos que ocorram choques severos, o dólar continua a ter vantagens como moeda de troca global e reserva de valor, características que estão profundamente enraizadas e tornam sua substituição uma tarefa complexa.

“No passado, já ocorreram movimentos cambiais significativos sem que o dólar perdesse sua posição de destaque, e nossa expectativa é que a situação atual não será diferente”, afirma.

Hatzius também enfatiza que o principal fator para determinar se os EUA enfrentarão uma recessão não é o dólar, mas sim a possibilidade de uma troca contínua de tarifas recíprocas após o atual período de pausa de 90 dias, uma guerra comercial com a China ou a implementação de novas tarifas agressivas sobre produtos específicos.

AS três consequências econômicas do dólar mais fraco, segundo o Goldman Sachs

  1. A pressão inflacionária causada pelas tarifas tende a aumentar: espera-se que as tarifas elevem a inflação nos EUA de 2,75% para 3,5% ainda este ano, e a desvalorização do dólar pode adicionar cerca de 0,25 ponto percentual. O efeito da moeda mais fraca recairá sobre os consumidores americanos, em vez de afetar os produtores estrangeiros.
  2. Uma moeda norte-americana depreciada deve resultar em preços mais baixos para as exportações: no médio prazo, essa alteração nos preços pode ajudar a diminuir o déficit comercial dos EUA, que é um dos objetivos da administração Trump. Portanto, é improvável que os formuladores de políticas econômicas dos EUA tentem impedir a desvalorização do dólar.
  3. Além disso, um dólar mais fraco poderia prevenir uma recessão: teoricamente, essa desvalorização melhoraria as condições financeiras. No entanto, as razões por trás dessa desvalorização são cruciais. A diminuição do interesse por ativos americanos — incluindo os títulos do Tesouro — pode neutralizar o efeito positivo de uma moeda mais fraca sobre as condições financeiras.

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