Em meio aos riscos externos gerados pela guerra tarifária de Trump, a economia brasileira deve sofrer uma retração na segunda metade do ano. O JP Morgan agora projeta que a Selic atingirá um dígito até o final de 2026.
Considerando os riscos externos, o JP Morgan ajustou suas previsões para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, agora prevendo apenas mais um aumento na Selic neste ano, com cortes de juros começando em novembro.
Em um relatório divulgado nesta sexta-feira (11), o banco americano indicou que espera uma leve recessão no Brasil na segunda metade do ano, devido à concretização dos riscos externos, que se manifestam em uma guerra comercial mais ampla e incerta.
Recentemente, o JP Morgan Global aumentou a probabilidade de uma recessão global no segundo semestre para 60%, além de prever uma desaceleração no crescimento do PIB dos Estados Unidos neste ano.
Embora o Brasil tenha sido um dos países menos impactados diretamente pelas tarifas impostas pelo presidente americano, Donald Trump, a economia nacional deve enfrentar dificuldades, o que abre espaço para uma política monetária menos restritiva do que se previa anteriormente.
Assim, o JP Morgan revisou sua previsão de crescimento do PIB brasileiro para 2025, reduzindo-a de 2,2% para 1,9%. Para 2026, a projeção foi ajustada de 1,5% para 1,2%.
As estimativas de inflação permaneceram em 5,5% para 2025 e 3,2% para 2026, mas a expectativa em relação à trajetória da Selic foi diminuída.
Atualmente, o JP Morgan prevê apenas mais um aumento de 0,50 ponto percentual em maio, elevando a taxa para 14,75%. O banco acredita que o ciclo de cortes começará em novembro deste ano e se estenderá até o final de 2026.
Dessa forma, na avaliação do banco, a Selic deve encerrar 2025 em 13,75%, uma revisão em relação à projeção anterior de 15,25%, e alcançar 9,75% ao final de 2026, em comparação com a previsão inicial de 12,50%.
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Agro deve ser beneficiado, mas não será o bastante para o PIB brasileiro
Entre os países que sofreram tarifas impostas por Trump no dia 2 de abril, o Brasil foi um dos menos afetados, enfrentando apenas a taxa mínima de 10%. De acordo com o JP Morgan, isso pode resultar em um impacto direto de 0,3% no PIB brasileiro, devido à baixa exposição do país ao mercado dos EUA e ao comércio internacional em geral.
“No entanto, os efeitos secundários podem ser significativos, pois essa guerra comercial ampliada pode beneficiar as exportações agrícolas do Brasil por meio de desvios comerciais”, afirma o relatório do banco.
O JP Morgan ressalta que Brasil e Estados Unidos competem no mercado de commodities. As tarifas americanas — que afetam países como México, Canadá, Índia, China e nações da União Europeia — estão gerando uma série de retaliações.
“Em nossa perspectiva, o processo de substituição que ocorreu nas importações chinesas após 2018, quando a China começou a priorizar as importações agrícolas brasileiras em detrimento das americanas, pode se repetir com a China e outros países. O benefício indireto poderia compensar completamente o impacto negativo da tarifa de 10%”, comentam os analistas do banco.
Apesar desse potencial benefício para as commodities agrícolas brasileiras, o JP Morgan acredita que as expectativas de recessão nos Estados Unidos e globalmente afetarão negativamente o Brasil. A desaceleração da economia global deve impactar o PIB brasileiro em 0,5 ponto percentual, segundo suas estimativas.
“É a interação desse choque externo com as vulnerabilidades já existentes na economia brasileira que, em nossa visão, resultará em uma recessão na segunda metade do ano”, afirmam os analistas do JP Morgan. Eles já previam uma desaceleração significativa no segundo semestre devido ao enfraquecimento dos balanços corporativos em decorrência do aumento das taxas de juros e dos custos com impostos e mão de obra no país.
“Considerando a recessão global, agora projetamos que o PIB brasileiro entrará em uma leve recessão no segundo semestre de 2025”, concluem os analistas.
Juros podem cair mais que o esperado, mas isso também depende do fiscal
Apesar da desvalorização do real em relação ao dólar, o JP Morgan acredita que essa desaceleração pode contribuir para a redução da inflação, possibilitando assim um afrouxamento do ciclo de aperto monetário mais cedo do que se esperava.
Entretanto, a magnitude e o momento do ciclo de queda nas taxas de juros dependerão não apenas da profundidade do impacto dos choques externos, mas também da resposta das políticas fiscal e parafiscal, especialmente em 2026, que é um ano eleitoral.
Isso se deve ao fato de que, nas duas recessões anteriores — a de 2008 e a provocada pela pandemia de covid-19 —, houve um relaxamento da política fiscal. O JP Morgan prevê que essa situação pode se repetir, especialmente com a proximidade das eleições presidenciais.

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