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Transição energética impulsiona corrida por minerais críticos, mas essa mineração gera novos problemas ambientais e sociais, aponta estudo

Uma pesquisa realizada pelo Observatório da Mineração examina os impactos acumulados da atividade mineradora em quatro estados brasileiros: Pará, Minas Gerais, Bahia e Piauí. O estudo destaca os riscos climáticos, hídricos e sociais que estão relacionados à busca por minerais essenciais, como lítio, cobre e níquel.

A transição energética, fundamental para mitigar as mudanças climáticas, está gerando uma intensa busca global por minerais essenciais, como lítio, cobalto, níquel, grafite e cobre.

Esses materiais são cruciais para o desenvolvimento de tecnologias de energia limpa, incluindo baterias elétricas, painéis solares e turbinas eólicas.

O Brasil tem se destacado como um dos principais fornecedores de minerais para essa transição, com expectativas de investimentos que podem chegar a US$ 64 bilhões (cerca de R$ 361 bilhões) até 2028, visando expandir o setor mineral no país, conforme aponta um relatório recentemente divulgado pelo Observatório da Mineração.

Contudo, a pesquisa revela que a crescente demanda por minerais críticos está exacerbando riscos socioambientais já presentes em regiões que enfrentam vulnerabilidades sociais, ambientais e climáticas.

“O setor de mineração tem se promovido como uma ‘solução’ sustentável para a transição energética. Estamos deixando uma dependência de combustíveis fósseis para nos tornarmos ainda mais dependentes de recursos minerais, o que implica na abertura de centenas, talvez milhares, de minas em áreas sensíveis, como a Amazônia e o Cerrado”, comentou Maurício Angelo, diretor do Observatório da Mineração.

O estudo intitulado “Riscos Climáticos Cumulativos: transição energética e a nova corrida minerária no Brasil” concentra-se em quatro estados brasileiros com significativa atividade mineradora e potencial para novos projetos voltados à transição energética: Minas Gerais, Pará, Bahia e Piauí.

Segundo o relatório, os quatro estados brasileiros foram selecionados por possuírem características particulares que intensificam os riscos socioambientais associados à busca por minerais críticos, a saber:

  • Alta concentração de requerimentos e concessões minerárias para minerais estratégicos;
  • Sobreposição com territórios de comunidades tradicionais, como indígenas, quilombolas e ribeirinhos;
  • Cenários de estresse hídrico e desmatamento crescente, que podem ser agravados com novos empreendimentos.

Riscos climáticos cumulativos: conceito-chave do estudo

O estudo introduz o conceito de riscos climáticos cumulativos para explicar situações em que os impactos de diversos fatores — como desmatamento, escassez de água, alterações no padrão de chuvas e desigualdades sociais — se acumulam e se potencializam, resultando em consequências mais severas do que se fossem consideradas isoladamente.

“Os riscos climáticos cumulativos emergem quando múltiplos estressores se sobrepõem em uma determinada região ou sistema, criando vulnerabilidades mais agudas, menos previsíveis e de difícil reversão”, afirma o relatório.

A expansão da mineração nos quatro estados analisados tende a provocar efeitos climáticos, como aumento de calor e chuvas intensas fora de época, maior número de dias secos consecutivos, redução anual das chuvas e temperaturas extremas, entre outros.

“Uma empresa de mineração de lítio chegou ao Vale do Jequitinhonha [MG] e derrubou mil árvores em uma região semiárida como a nossa. O impacto na qualidade do ar e da água é imenso. O Rio Araçuaí e o Rio Jequitinhonha estão quase desaparecendo”, alertou a indígena Cleonice Pankararu.

Minas Gerais possui 80% das reservas de lítio do Brasil, com o Vale do Jequitinhonha sendo o principal polo de extração. “Com mais sete projetos em curso, espera-se que a produção de lítio aumente cinco vezes até 2028, atraindo US$ 6 bilhões em investimentos na próxima década”, destaca o estudo.

Outro efeito negativo da busca por minerais críticos na transição energética é o aumento nas emissões de gases de efeito estufa geradas pela própria atividade mineradora. Nesse contexto, segundo Angelo, não adianta substituir uma economia baseada em combustíveis fósseis por outra baseada em minerais sem uma mudança nos padrões de produção e consumo.

Á gua, clima e mineração: uma combinação crítica

O estudo ressalta que a disponibilidade de água é um elemento crucial nos riscos climáticos cumulativos. A mineração para a transição energética demanda grandes quantidades de água e frequentemente ocorre em áreas com balanço hídrico negativo (onde a evaporação supera a recarga) e que enfrentam conflitos pelo uso dos recursos hídricos.

“A extensão dos rios já foi significativamente reduzida em várias partes de Minas Gerais, Goiás e Bahia, evidenciando a diminuição da disponibilidade de água e o aumento da competição por esses recursos”, aponta o levantamento.

Além disso, eventos extremos, como secas prolongadas e enchentes severas, estão se tornando mais comuns, podendo interromper atividades industriais, contaminar fontes de água e agravar deslocamentos populacionais.

A pesquisa também destaca que a mineração pode afetar o fornecimento de energia elétrica no Brasil, uma vez que nossa principal fonte de energia provém das hidrelétricas.

“O gerenciamento dos impactos negativos da mineração exigirá que as empresas adotem uma abordagem proativa na gestão de riscos, implementando estruturas políticas eficazes para garantir incentivos adequados e uma supervisão robusta por parte das autoridades”, afirma o documento.


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