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Vale (VALE3) não anunciou dividendos extraordinários e mantém atenção voltada para a China: quais os possíveis desdobramentos para a mineradora neste momento; ações registram queda de 2%

Executivos da empresa, incluindo o CEO Gustavo Pimenta, abordam os resultados financeiros do primeiro trimestre e destacam os riscos associados à guerra comercial entre China e EUA que podem impactar os negócios da companhia.

Os investidores despertaram nesta sexta-feira (25) com a notícia de que a China anunciou um conjunto de medidas para acelerar a implementação de políticas proativas. Essa é a estratégia que a Vale (VALE3) aposta para enfrentar a guerra comercial: que o governo de Xi Jinping continue a estimular a economia para contornar as tarifas impostas por Donald Trump.

“Há expectativas de que o governo chinês promova o consumo interno para lidar com as tarifas. Se isso ocorrer, a Vale poderá se beneficiar”, comentou o vice-presidente executivo da área comercial e de desenvolvimento da empresa, Rogério Nogueira, durante uma teleconferência com investidores.

Entretanto, segundo o CEO da mineradora, Gustavo Pimenta, o momento é de cautela — inclusive em relação aos dividendos extraordinários.

“Estamos monitorando de perto essa situação e ainda não notamos um impacto significativo nas operações e resultados financeiros da Vale. Nossa venda para os EUA é limitada e o níquel está isento das tarifas. O que realmente nos preocupa é o efeito no PIB global e nas commodities, sempre priorizando a eficiência de custos”, afirmou Pimenta.

Na noite de quinta-feira (24), a Vale divulgou os resultados do primeiro trimestre, mostrando uma queda de 17% no lucro líquido, sem anunciar o pagamento de dividendos aos acionistas ou novas recompras de ações. Para que isso aconteça, conforme os executivos, é necessário que as incertezas atuais se dissipem e que as ações da companhia se tornem mais atraentes.

Por volta das 13h, as ações da VALE3 apresentavam uma queda de 2,26%, sendo negociadas a R$ 54,07. No acumulado do mês, os papéis registram uma perda de 4,7%, enquanto que no ano, a variação é positiva, com um aumento de 3%.

  • É importante destacar que no trimestre anterior, a mineradora anunciou um programa de recompra de até 120 milhões de ações ordinárias, o que correspondia a 3% do total de papéis em circulação. Naquele momento, o mercado reagiu positivamente ao volume do programa, que poderia diminuir a quantidade de ações disponíveis, elevar o preço dos papéis na bolsa e aumentar os dividendos distribuídos aos acionistas.

Atualmente, a situação é diferente. “Estamos vivendo um período de incertezas em relação às condições de mercado e, por isso, acreditamos que não é o momento adequado para discutir o pagamento de dividendos extraordinários. Tanto a distribuição de dividendos quanto a recompra de ações estão condicionadas aos preços dos ativos e à necessidade de que a dívida líquida aumentada atinja o patamar de US$ 15 bilhões”, declarou o diretor financeiro e de relações com investidores da Vale, Marcelo Bacci, durante a teleconferência.

  • No primeiro trimestre, a dívida líquida expandida da Vale — que abrange as provisões relacionadas a Brumadinho e Samarco — alcançou US$ 18,242 bilhões. Esse valor representa uma redução de 16% em comparação ao mesmo período do ano anterior, mas um aumento de 11% em relação aos últimos três meses de 2024.

Condições atuais do mercado e o minério de ferro

Embora os executivos da Vale não tenham observado, até o momento, impactos diretos da guerra comercial entre os Estados Unidos e a China no desempenho financeiro da empresa, eles reconhecem que a troca de tarifas entre essas duas potências já está afetando seus principais clientes, especialmente no Japão e na Coreia do Sul.

Esse cenário está levando a Vale a ajustar sua oferta de produtos. “Os clientes estão operando com margens mais estreitas e os prêmios por qualidade também estão em baixa. Além disso, há uma tendência de busca por minério de ferro de menor teor, e por isso estamos direcionando nossos esforços para atender a essa demanda”, afirma Nogueira.

O vice-presidente executivo da área comercial e de desenvolvimento acrescenta que a Vale está focada em otimizar sua cadeia fora do Brasil, buscando aumentar a eficiência logística e melhorar o desempenho de plantas que têm potencial para se tornar ainda mais rentáveis.

Sobre os preços do minério de ferro, Nogueira comentou que a commodity deve permanecer em torno de US$ 100 por tonelada, um nível estável em relação aos preços atuais. Ele também mencionou que, caso ocorra uma nova queda nos preços, a Vale pretende implementar cortes nos custos, como os de frete, para compensar essa redução.

  • O contrato mais ativo de minério de ferro na Bolsa de Futuros de Dalian, com vencimento em setembro de 2025, encerrou esta sexta-feira (25) com uma queda de 1,87%, sendo cotado a 709 yuans por tonelada, o que equivale a US$ 97,27. Na Bolsa de Cingapura, o contrato para entrega em maio foi negociado a US$ 98,60 por tonelada, apresentando uma retração de 0,85%.

Comprar ou vender: o que fazer com as ações da Vale?

Embora a guerra comercial entre os Estados Unidos e a China não tenha impactado os resultados da Vale no primeiro trimestre, essa situação pode mudar nos próximos meses. O BTG Pactual, ao avaliar o desempenho da mineradora, observa que a segunda metade de 2025 trará incertezas significativas para a empresa.

Os analistas Leonardo Correa e Marcelo Arazi antecipam revisões negativas para a Vale no segundo semestre, à medida que os investidores se adaptam a um cenário de preços de minério de ferro mais baixos. A previsão do BTG para o preço da commodity é de US$ 95 por tonelada este ano e US$ 85 para 2026.

No que diz respeito ao balanço do primeiro trimestre, o BTG destaca como ponto positivo a redução dos custos em minério de ferro e metais básicos. A gestão da Vale está otimista quanto à possibilidade de atingir o guidance de custo entre US$ 20,50 e US$ 22,00 por tonelada, embora o banco considere que esse valor ficará mais próximo da extremidade inferior. Durante o período, a mineradora apresentou um custo de US$ 21 por tonelada, excluindo as despesas com compras de terceiros. Os analistas acreditam que a eficiência nos custos deve continuar melhorando ao longo do ano.

Atualmente, o BTG mantém uma recomendação neutra para o ADR (American Depositary Receipt) da Vale, com um preço-alvo de US$ 11, indicando um potencial de valorização de 16,5% em relação ao fechamento anterior.

Ruy Hungria, analista da Empiricus Research, ressalta que, com um múltiplo de 3,7x valor da firma/EBITDA e um retorno sobre dividendos superior a 8%, a Vale continua sendo uma recomendação na série Vacas Leiteiras da casa. Ele observa que, apesar dos resultados fracos — típicos da sazonalidade do primeiro trimestre —, a manutenção do guidance para 2025 oferece perspectivas mais otimistas para o restante do ano.

A XP também acredita que a Vale teve um desempenho positivo no primeiro trimestre de 2025 na área de transição energética, impulsionado por preços mais altos e receitas adicionais na divisão de cobre, além da recuperação dos resultados na divisão de níquel. No entanto, a corretora não vê motivos para comprar ações da mineradora neste momento e reafirma sua recomendação neutra devido ao potencial limitado de valorização das ações.

Os analistas Alexander Hacking e Stefan Weskott, do Citi, destacaram o bom desempenho da divisão de cobre, que superou as expectativas graças a custos reduzidos e ao aproveitamento dos subprodutos de ouro. O Citi recomenda compra das ações da Vale com um preço-alvo de US$ 12 para os ADRs, apontando um potencial de valorização de 23% em relação ao fechamento mais recente.

Por sua vez, o UBS BB avaliou os resultados do primeiro trimestre como alinhados às expectativas do mercado. Os analistas Caio Greiner, Arthur Biscuola e Fernanda Sardinha notaram uma sólida performance operacional da mineradora e uma redução nos custos totais em comparação anual. Contudo, eles permanecem cautelosos quanto ao futuro devido às perspectivas pouco animadoras para o minério de ferro, estimando que o preço pode cair para US$ 85 por tonelada em 2025. Isso poderia pressionar as ações da empresa, levando-os a manter uma classificação neutra com um preço-alvo de US$ 10,50 para os ADRs da Vale, sugerindo um potencial de valorização de 7,69% em relação ao fechamento anterior.


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